
Por preconizar a força suficiente do homem para seguir os ditames da razão (como obrigações a priori), ainda que os apetites e inclinações biológicas ameacem demovê-lo de tal direcção, a moral de Kant é uma moral racional.
Kant dá um exemplo, pode alguém tomar por máxima o não suportar sem vingança insulto algum e, no entanto, reconhecer ao mesmo tempo que não é uma lei prática, mas apenas uma máxima sua, e que, como regra para a vontade de todo o ser racional, ela não pode harmonizar-se consigo mesma numa só e mesma máxima?
Nota-se, igualmente, o carácter intencionalista da moral kantiana, cedo no escrito, quando este refere que A regra prática é (…) um produto da razão, porque prescreve a acção como meio para o efeito, como intenção. Oposição clara às éticas consequencialistas, derivadas do utilitarismo desenvolvido por Jeremy Bentham e John Stuart Mill, padrinho e afilhado, filósofos ingleses, que preconizam o móbil da acção moral como sendo a busca da maior felicidade para o maior número de pessoas possível, creditando aqueles que, através das mesmas, obtivessem o maior saldo de felicidade tangível.

Segue-se, na obra, a apresentação de quatro teoremas fundamentais da razão no seu uso prático, que passo a citar, abstendo-me de os desenvolver.
Teorema I: Todos os princípios práticos que pressupõem um objecto (matéria) da faculdade de desejar, enquanto princípio determinante da vontade, são no seu conjunto empíricos e não podem fornecer nenhumas leis práticas. (A 38, 39)
(Entende-se matéria da faculdade de desejar um objecto cuja realidade é desejada.)
De salientar que é deste teorema que se origina o carácter formal da ética kantiana.
Teorema II: Todos os princípios práticos materiais são enquanto tais, no seu conjunto, de uma só e mesma espécie e classificam-se sob o princípio geral do amor de si ou da felicidade pessoal (oposição ao epicurismo). (A 39, 40, 41)

Visto que a simples forma da lei só pode ser representada pela razão e, por conseguinte, ela não é nenhum objecto dos sentidos, não fazendo também parte dos fenómenos (…) a representação dessa forma enquanto princípio determinante da vontade, é distinta de todos os princípios que, na natureza, determinam os eventos segundo a lei da causalidade. Forma legisladora universal, independente da lei natural dos fenómenos nas suas relações recíprocas. (A 51, 52)

Visto que a matéria da lei prática nunca pode ser dada senão empiricamente, devendo porém a vontade, enquanto independente das condições empíricas (mundo sensível) ser apesar de tudo determinável, é preciso que encontre, não obstante, na lei um princípio de determinação. (A 51, 52)
Arriba, então, Kant na “Lei fundamental da razão pura prática”, popularizada como “imperativo categórico kantiano”: Age de tal modo que a máxima da tua vontade possa valer ao mesmo tempo como princípio de uma legislação universal, com o respectivo corolário: A razão pura é prática por si mesma apenas e dá uma lei universal que chamamos a lei moral.
A lei moral como tal, designa um constrangimento para um livre-arbítrio afectado patologicamente por causas subjectivas, que necessitam de uma resistência da razão prática que pode chamar-se uma coerção interior, intelectual.
Teorema IV: A autonomia da vontade é o único princípio de todas as leis morais e dos deveres a elas conformes; pelo contrário, toda a heteronomia do livre-arbítrio não só não funda nenhuma obrigação, mas opõe-se antes ao princípio da mesma e à moralidade da vontade.
Por conseguinte, jamais deve considerar-se como lei prática um preceito prático que inclua em si uma condição material.
Em A 69, “Os fundamentos práticos materiais de determinação no princípio da moralidade são:”, Kant divide esses mesmos fundamentos em subjectivos e objectivos, de acordo com as noções de subjectividade e objectividade acima referidas. Sofrendo uma posterior subdivisão em externos e internos, conforme se adquirem interna ou externamente.
http://www.mediafire.com/file/zcjm5jh4hll/tabelaKant.doc
No capítulo II da analítica da razão pura prática, “Do conceito de um objecto da razão pura prática”, Kant deixa ciente que se a lei se puder considerar a priori como o princípio determinante da acção e esta como determinada pela razão pura prática, o juízo sobre se alguma coisa é ou não um objecto da razão pura prática é independente da comparação com o nosso poder físico, e a questão é somente se nos é permitido querer uma acção que se dirige à existência de um objecto. Por conseguinte, o que deve preceder é a possibilidade moral da acção; pois aqui, não é o objecto, mas a lei da vontade o seu princípio determinante.
Os únicos objectos de uma razão prática são (…) constituídos pelo Bem e pelo Mal (…) objecto necessário da faculdade de desejar (…) objecto necessário da faculdade de aversão.
“Dos Motivos da Razão Pura Prática”, capítulo final da analítica da razão prática, encerra a primeira parte desta imensa obra, com a premente distinção entre acção contra o dever, acção conforme ao dever e acção por dever/por respeito ao dever. No primeiro caso, a acção é completamente destituída de valor moral. No segundo caso, e apesar de seguir a letra da lei moral (sendo, portanto, legal), não passa de um meio para atingir num fim, marcada por inclinações. A última, por seguir a lei moral por simples respeito à mesma, como a um dever incontornável, eximindo-se de qualquer móbil empírico, permeada por uma humilhação do amor de si mesmo e da presunção, possui valor moral. Respeito este completamente divergente do que uma pessoa pode nutrir por outra, pelo facto de lhe descobrir características preclaras, visto que, neste último caso, apenas o físico se inclina na presença de outrem. Já no que diz respeito à lei moral, é o espírito que se inclina perante a sua austeridade de princípios.
Sentenças preponderantes:
“(…) a fim de se colocar toda a moralidade das acções na necessidade de agir por dever e por respeito pela lei, não por amor e por inclinação (…)”
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O quê? Já estamos a gravar? ups..
Olá pessoal!
É só para dizer para quando comentarem, não insultarem ninguém (a não ser que tenham razão :D), não fazer Pub., e principalmente não desiludir a vossa mãe, e ser bem-educado ;)
(Ou podes também fazer o contrário de tudo, mas arriscas-te a ver o teu comentário apagado! :D)
Vá agora deixa-te de merdas e comenta! ;)
Thanks!