A doce lágrima, que em tempos pendeu num rosto aberto, cai livremente no soalho orgânico que compõe o passeio da criação. A árvore das míticas proibições remete-se à sua existência pacata, tentando, em vão, colmatar os desejos proibidos de outrem. Adão impediu Eva de consumir o derradeiro fruto da discórdia, protegendo a sua eterna amada de uma precoce saída do ciclo perfeito. O Mar produz escassos sons de chamamento, pedindo igual perfeição para as suas ondas desfiguradas pelo efeito de uma gravidade que não descrimina. O Ar, mescla cada vez menos perfeita de gases, pouco ou nada pode fazer para se esconder da alteração química rápida, insurgida pela altivez de um Homem sem escrúpulos para com a natureza sibilante. A Terra encontra-se em constante mutação, sendo destacada para várias guerras sem fim, indo para onde a mandam, qual soldado a caminho de mais uma realidade sem futuro. Amargo vilipêndio sobre a existência passiva de um ser invisível, inexistente para aqueles que não acreditam, doloso para os que o conhecem.


Acordo. Revelo os momentos vividos no mundo de sonho por onde passei, recordando fotograficamente acontecimentos nunca antes vividos. Será esta a verdade imensurável que tem vindo a ser questionada nas entranhas do meu cérebro? A realidade de um sonho, uma realidade não vivida mas palpável, sentida, com todos os argumentos a favor e contra. Quem pode provar que estou errado quanto a uma hipotética vida extra-sensorial. De súbito, profundo corte intervém na minha pele, do nada. Assusto-me, penso que a dualidade se está a apoderar de mim. Acordo, de novo. Não encontro explicação para ter sentido tão lancinante dor. Estarei a racionalizar para além do aceitável? Estarei a revelar uma díspar aventura cerebral, perdendo a fina noção que separa dois mundos tão complexos? Perco-me.


Levantando-me, pesadamente, dando pequenos passos em direcção à portada dos meus aposentos. Almejo um acordo entre duas realidades distintas, prevendo uma hipotética sanidade mental e física. Abro a porta, e revejo toda a caminhada em nanossegundos. De repente, e sem aviso prévio, o chão abatesse debaixo de mim, fazendo-me cair em espiral. Não sei onde terminará, se terminará, esta queda livre sentimental que em mim se abate. Tento agarrar-me, mas neste vazio interminável nada existe a não ser o meu corpo, bem como uma porção de ar, que alimenta os meus pulmões. Estou de volta. A experiência acaba, mas deparo-me com uma realidade diferente. Vejo-me a mim mesmo, mas não consigo identificar certos aspectos que caracterizam a minha entidade. A reacção de espanto fica notoriamente marcada nas minhas faces. Confronto-me.


Cataclismo acontece, sem prévio aviso para ambos. Volto ao meu terreno vigente, sem saber o que se passou. Posso apenas supor que os episódios de dualidade acontecem com cada vez maior frequência. Nada que eu possa fazer irá inverter a naturalidade da situação, e apenas me resta procurar o meu “eu” racional. Regresso, depois de uma ausência momentânea. Não podes provar que eu estou errado, esta é a minha visão do mundo. Quem me diz que a tua é correcta, quem marca o padrão? Na complexidade soberana de um pensamento meramente racionalizado, deparo-me com a partida das súbitas vontades de desaparecer. Serei uno em vez de duo? Poderei lançar todas as questões que me incomodam sem medo de as deixar pendentes no meu córtex? Partis-te, de novo, e eu fiquei a racionalizar sem o “eu” racional. Grande paradoxo com que me deparo. Se sou imediato, como posso racionalizar? Se sou duo, como é que a repetição me marca? Despeço-me, deixo a eterna questão sem resposta.

Etiquetas:

Qualquer tipo de publicidade e/ou comentário que tente denegrir a imagem de qualquer elemento/visitante deste blog será imediatamente apagado, sem aviso prévio.

Enviar um comentário

O quê? Já estamos a gravar? ups..
Olá pessoal!
É só para dizer para quando comentarem, não insultarem ninguém (a não ser que tenham razão :D), não fazer Pub., e principalmente não desiludir a vossa mãe, e ser bem-educado ;)
(Ou podes também fazer o contrário de tudo, mas arriscas-te a ver o teu comentário apagado! :D)
Vá agora deixa-te de merdas e comenta! ;)
Thanks!

Blogger David disse:
isso parece-me muito giro mas nem tive paciência pa ler
15 de dezembro de 2009 às 20:54