Lá diz o grande filosofo Descartes que, quem pensa, por consequência, existe. A frase – não exactamente como está na linha anterior - é famosa e eu não poderia estar mais de acordo. Pensar é o primeiro e talvez um dos únicos actos (para além do amor) de existir. Contudo, se quem pensa, existe, quem pensa também... sofre. Sofre com o facto de poder raciocinar, de chegar a uma conclusão, de ter uma opinião formada ou um gosto próprio. Não que as coisas supracitadas sejam más, porque bem vistas as coisas até não são, mas acreditem que o sofrimento de poder pensar corrompe bastante.

A maioria das pessoas tem medo de pensar, ou melhor, de dizer aquilo que pensa ou acha – e que é a nossa verdade absoluta, portanto. E eu de certa forma compreendo, porque pensar e falar daquilo que se pondera traz repercussões. Mas quem não pensa, invariavelmente, mente; mente a si próprio e ao mundo. Atrevo-me a dizer que quem não pensa, finge simplesmente. Aliás, pretende. É como que um escape para não querer enfrentar tudo e, simultaneamente, nada. Mas a vida não pode ser vivida sem os nossos problemas serem enfrentados, as nossas desilusões ultrapassadas ou os nossos fracassos superados. Então, é necessário pensar, raciocinar, concluir... Logo, aí acabamos numa questão derradeira:

Entre ser um pensador que sofre miseravelmente porque conclui ou um não-pensador que finge, pretende e mente para ser feliz... Qual é, em essência, o pior? Sofrer na realidade ou viver na mentira?

São questões. Questões feitas por um homem que pensa, e que portanto, sofre. Em todo o caso, como é bom não pensar e pretender, existir num mundo onde a própria realidade é simulada e os factos alterados...

Enfim, a vida é assim: um mundo de mentiras e de sofrimento. Deal with it.