Ontem li uma notícia cujo título era “Número de alunos a aprender Latim diminuiu 80 por cento em dois anos”. Como amante de línguas e literatura, e futuro aluno da área, a notícia suscitou-me logo interesse e desconforto! E agora, numa conversa com o Bragança onde discutíamos as coisas, fiquei absolutamente irritado! O meu desejo seria que a actual ministra da Educação, Isabel Alçada, lê-se este texto, mas como isso é pedir muito, fico-me por vocês que, diga-se de passagem, são uns óptimos leitores (:

Ora bem… por onde hei-de começar? Vejamos que há 4 cursos científico-humanísticos (eu não irei falar dos profissionais porque acho que há bons cursos profissionais e maus cursos profissionais, e não conheço bem a realidade deles): Artes Visuais – o curso a que chamo de “perfeito”, porque penso que tem todas as disciplinas que os alunos necessitam para terem sólidas bases para o seu futuro; Ciências Socioeconómicas – um curso imperfeito e desvalorizado; Ciências e Tecnologias – o curso de eleição do Ministério, mas que mesmo assim não está bem estruturado; Línguas e Humanidades – o curso dos que não gostam de estudar, e que está, também ele, mal dividido.

Ciências Socioeconómicas é aquele curso que, vá-se lá saber porquê, tem Geografia durante 3 anos, e Economia durante 2. Não há nenhuma disciplina do género Administração, Direito, Gestão – enfim, disciplinas que são fundamentais para qualquer curso que um aluno da área queira seguir na universidade!

Ciências e Tecnologias… o “melhor” curso à face da Terra… Há Matemática, Biologia e Geologia, FQ, Psicologia… mas… onde estão as “Tecnologias”?? Aaaah, é aquela pequena disciplina chamada “Aplicações Informáticas B”? Muito bem, Ministério, vocês é que são bons!! Porque é que “Línguas e Humanidades” não se chama “Línguas, Humanidades e Matemática Geral”?... Tem MACS (Matemática Aplicada às Ciências Sociais), portanto… Eu sei que FQ tem sempre o mínimo de tecnologias, e que dá sempre para seguir cursos de Engenharia, por exemplo… mas não é um ensino que prepare minimamente alguns alunos. Tem algumas lacunas, do meu ponto de vista.

Línguas e Humanidades… Essa área onde na maioria das escolas os alunos estudam História, Sociologia, Geografia, Matemática, Psicologia, Antropologia (disciplinas importantes no ramo das Humanidades, portanto), e em termos de Línguas estudam Português (TaL como todos os outros cursos) e uma língua estrangeira (TaL como todos os outros cursos). MAS QUEM FOI O BURRO QUE ELIMINOU LÍNGUAS E LITERATURAS DO QUADRO? “Ah, mas nós juntamos os dois cursos num só, muito melhor!”… MAS QUEM FOI O BURRO QUE DISSE ISSO? Um aluno que queria seguir Línguas, sabe que muito dificilmente estudará Literatura, 2 ou 3 línguas – caso escolha Latim -, e disciplinas do género… não haviam muitas escolas com o curso? Paciência, mas ao menos existiam! Mas ao menos os alunos que vão para esses cursos estavam bem preparados!
E que coisa é essa de Artes, Ciências e Economia (comummente chamados assim – e não é ao calhas que costumamos dizer Ciências e não Tecnologias, e Humanidades e não Línguas) terem o mesmo nível de Português que os cursos de Humanidades??? É tão absurdo um aluno de L&H ter Português assim como os alunos de CSC e CT começarem a ter MACS em vez de Matemática A. Que ‘escrotice’ e que burrice! E nem falo do facto de DO 10º AO 12º NÃO APRENDERMOS GRAMÁTICA! No outro dia uma amiga perguntou-me o que era “Sintaxe”… Uma outra não sabia o que era um substantivo, e ficaram todos muito alarmados quando a professora disse “advérbio”… No meu caso, tenho muito medo de chegar à universidade e espetar-me completamente porque vou estar a falar de coisas que não falo há 3 anos! Mesmo assim, sai gramática no exame de Português!... Gente inteligente, esses do Ministério, hein?!

Quanto à matemática, é outra coisa que me irrita. MATEMÁTICA É ESSENCIAL! PORQUE É QUE MATEMÁTICA NÃO É OBRIGATÓRIO? Não gostam? Paciência, eu também não gostava e lá tive que ter… é essencial… vão-me dizer que Educação Física (EF) e Área de Projecto (AP) é mais importante que matemática? Falando nisso… É preciso ser muito anormal para fazer com que EF valha tanto quanto Português, a Específica (Matemática A, História A ou Desenho A), ou Matemática (MACS ou B), muitas vezes inexistente nalguns cursos…

Muitas vezes ouve-se dizer que Inglês é a língua do futuro, e que muitos jovens portugueses não sabem falar inglês… O que é que o Ministério – ou o Estado – faz para tentar travar isso? Põe a aprendizagem de Inglês obrigatória até ao 9º ano, e facultativa do 10º ao 11º (temos que escolher entre Inglês, Francês, Espanhol ou Alemão). No 12º podemos ainda escolher a disciplina, mas, como seria de esperar, a maioria das pessoas escolhem disciplinas que tenham a ver com a área! Possas, Ministério, geniais, vocês! É assim mesmo, Portugal vai conseguir evoluir com essas medidas! E nem falo no Inglês que é ensinado, que é mais técnico e parvo do que prático e coerente. Mas tudo bem, let’s not talk about it!... (Querem a tradução? Ide ao tradutor!)

Bom… acho que cheguei ao fim… claro que falta falar de algumas coisas como o facilitismo crescente ou o facto do curso CT ter exames intermédios, o que é uma injustiça para eles, perante os restantes cursos… Mas o que quero dizer é que a EDUCAÇÃO é base para a evolução de um país… e educação não é sinónimo de Matemática e Ciências, TaL como o país pensa… Educação é tudo… são matemáticos e cientistas, pintores e artistas, escritores e economistas… e é preciso dar as oportunidades a todos – o mais profissional e eximiamente possível!

TaLvez já seja tempo de mudar!
… ao menos, Filosofia ainda está no programa!

(E para que não fiquem dúvidas, o título é uma ironia!)

Miolo3

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Blogger Knuckles disse:
Muito obrigado! Finalmente leio algo com substância, socialmente activo e cáustico.

Concordo com algumas coisas, outras não. Como concordo com a maioria vou apenas citar aquilo sobre o qual discordo.

Para mim é perfeitamente compreensível que todos os cursos tenham o mesmo nível de Português. Para além da vertente cultural (que não irei explorar), qualquer que seja a área, qualquer que seja o curso, vão precisa e muito de Português. Desde elaboração de relatórios até à normativa apresentação e discussão de ideias, é absolutamente essencial um aluno bem incutido a nível da sua língua-mãe para vingar.

Quanto à junção dos cursos de letras, sou apologista. Realmente era, a meu ver, um desperdício de fundos manter um curso com uma adesão quase insignificante. Contudo isso não significa que concordo com a abolição de disciplinas basilares do mesmo. Apoio a ideia mas discordo totalmente com o modo operatório como a mesma foi tratada.

No fundo o que acaba por estar mal é toda uma estrutura educacional, onde os alunos são apresentados a programas e/ou disciplinas com as quais nunca mais entrarão em contacto na vida profissional.

E quanto aos cursos profissionais sou, mais uma vez, apologista. Mas por favor barrem-lhes o acesso ao ensino superior. Qualquer um que lá ande 3 anos a fazer "cera" até se safa no exame e ocupa vagas de "honestos" alunos que andaram 3 anos na área indicada para a finalidade, sujeitos a um grau de dificuldade a anos-luz do supracitado.

Mais um vez excelente trabalho, é de textos como este que o blogue necessita.
17 de julho de 2010 às 18:42  
Blogger Miolo 3 disse:
@Knuckles

Sim, é verdade que todos devemos ter Português, eu não disse o contrário! Mas acho que o curso de LH deveria ter Português A. Há uns anos atrás isso existia, e então todos tinha Português B (o programa é o mesmo que o Português de agora) e Humanidades tinham Português A (que equivale ao programa de Literatura Portuguesa). Acho que faz muito mais sentido!

Quanto à junção, eu sou contra. Sim, haviam poucas escolas com Línguas e Literaturas porque haviam poucos alunos, mas o que muita gente não sabe é que muitas escolas juntavam-se para ter um curso. Por exemplo, Lousada, Paredes, Penafiel, Paços de Ferreira e Felgueiras juntavam todos os interessados no curso e abriam a turma numa dessas escola, dando oportunidades... com um só curso, isso é sempre mais difícil :S

Anyway, obrigado pela opinião :D:D
17 de julho de 2010 às 19:38  
Anonymous Anónimo disse:
Não podia concordar mais com o meu amigo Miolo!

É o ministério da (des)iducassão, onde o que interessa são as estatísticas e os alunos de Ciências. Que me perdoem os meus amigos que frequentam essa área mas eu já fui vitima desse "favorecimento"

Eu apesar de tudo concordo com a "separação" do Português. Nós tínhamos o normal que temos agora e os de Humanidades teriam mais aprofundado, pois esta área é a que está direccionada para pessoas que futuramente estarão num maior contacto com a disciplina, digamos. Se bem que acho que o programa está mal feito mesmo assim... Se eu chamasse para aqui o meu professor de Português... LOL

Um abraço Motaz!
E o Knuckles: é nisto que o blogue é diferente dos outros... Conto contigo Motaz :)
18 de julho de 2010 às 02:45  
Anonymous Armando disse:
Olá Motaz. Excelentes linhas! Concordo contigo.
O Guakjas sabe melhor que eu mas de facto estar em Economia e ter Geografia... Quer dizer não é que seja mau de todo, quanto mais conhecimento melhor ok, mas se calhar uma aula de Contabilidade (só digo isto) dava jeito. Olha como no meu tempo que andava em Economia tinha isso: Contabilidade e I10 penso.
Eu sou ainda da "velha ordem" do Português B e digo-vos apesar das diferenças nas obras (eu dei Vírgilio Ferreira e vocês Saramago) o conteúdo é o mesmo ou muito parecido... Não vejo diferença...

Quanto às línguas, sou a favor do Inglês (ou outra qualquer) do 10º ao 12º...

Vá lá que a Filosofia ainda está no programa...

Um abraço
Continua!
18 de julho de 2010 às 22:51