Antes que me venham com hipocrisias, não, eu não era um fã incondicional de António Feio. Aliás, para que conste, apenas gostei da série Conversa da Treta (atrevo-me a dizer que foi o papel mais marcante que ele fez, pelo menos para o grande público, e que me perdoem os fãs do senhor, mas não lhe conheco a carreira de todo) e pouco mais.

De qualquer das formas, uma morte é sempre de lamentar. E especialmente esta morte, da forma como aconteceu. Pois todos sabemos (aqueles que acompanham minimamente as notícias vá lá) como é que o António Feio lidava com o facto de ter um cancro no pâncreas. O sentido de humor refinado e o optimismo puro e duro eram excelentes armas para quem passa por uma situação destas, quero dizer, acho que é óptimo para tudo o que acontece de menos bom na vida. E, sabem, é nestes momentos de extrema pressão que o nosso verdadeiro 'eu' vem ao de cima.

Tenho em conta o sr. António Feio como um talentoso e dedicado profissional, e como um ser humano (embora nunca o tenha conhecido claro) humilde e com um sentido de humor que muitos gostariam de ter.

Sucumbiu ontem perante uma doença complicada, mesmo depois de ter declarado guerra com a sua arma mais forte: a de encarar a vida com um sorriso, alegremente, mesmo quando o mundo parecia desabar. Gosto disso.

Relativamente ao Humor, não o apreciava de sobremaneira ao ponto de dizer que era fã, como já referi, mas também não me passava ao lado. Ele e o Zé Pedro Gomes fizeram a Conversa da Treta, que marcou a minha infância (sobretudo) pela forma satírica em que 'cascavam' na sociedade. Lembro-me bem dos sketches, gostava verdadeiramente daquilo. E de um livro que há uns tempos voltei a reler, sobre essa mesma Conversa da Treta.

É por esse espírito e por tudo o que deu ao humor que digo: Descansa em paz, António Feio. A vida é uma treta, mas vale apena. Sempre.