Junto-me pela 7ª vez com vocês para discutirmos mais um assunto que está na "mesa de trabalhos" do mundo. Aguardo uma discussão com opiniões bem estruturas e fundamentadas. Eu vou tentar fazê-lo da forma que sei.

Tema da Semana: Execução de Shakine Mohammadí Ahstiani

Está na ordem do dia no que toca a questões sociais.
Desde a Revolução Islâmica, em 1979, as leis iranianas advogam que adúlteros devem ser executados por apedrejamento - enterra-se o corpo do condenado até a altura do pescoço, deixando a cabeça à mostra e à mercê das pedras atiradas pelos populares.
Ahstiani tinha sido condenada por supostamente manter relações extraconjugais com o assassino do seu marido. Mas o julgamento foi bastante criticado por órgãos internacionais pela insuficiência de provas e pela dificuldade da ré, que é não fluente em persa, em comunicar com os juízes.
A mulher de 43 anos, mãe de dois filhos, condenada à morte em 2006, não vai ser apedrejada, como dizia a sentença proferida pelos três juízes, mas a condenação à morte mantém-se. O regime de Teerão cedeu à pressão internacional mas a Amnistia Internacional avança que o comunicado do Governo iraniano não faz menção à anulação da sentença de morte, podendo ser a mulher executada por outro método, a qualquer momento.

As organizações de defesa dos direitos humanos estão a acompanhar este caso desde algum tempo. E, claro, têm feito pressão sobre o Irão pois este país assinou a Declaração Universal dos Direitos Humanos e, obviamente, isto vai totalmente contra aquilo que eles "assinaram".

Mas agora eu quero levar-vos a ver este caso de um prisma diferente.

Eu sei que é difícil compreender a decisão dos tribunais do Irão e nós, ocidentais, vemos isto com uma repulsão tremenda. Mas não estaremos nós a praticar o etnocentrismo cultural? O etnocentrismo cultural é uma "atitude" que influencia a observação e análise de outras realidades culturais baseada na crença de que a cultura do observador (a nossa) é a perfeita, sendo todas as outras valorizados (ou sobre valorizadas) em função dela. E é exactamente isso que estamos a fazer. Nós e a maioria das organizações. Estamos a "julgar" o caso como se fosse nosso, como se passa-se dentro "das nossas portas".
A posição das instâncias de justiça do Irão é legítima porque estão enraizadas em factores ambientais, sociais, culturais, educacionais completamente diferentes dos nossos.

Independentemente de tudo, nós só temos que aceitar o que o tribunal do Irão decidiu. Não temos que nos meter nos assuntos deles. É um cultura que merece ser respeitada. Eu sei que é difícil tentar meter isto na cabeça das pessoas, até na minha própria cabeça pois é um acto hediondo, mas há que perceber que há razões culturais que transcendem qualquer documento que o Irão assinou (a Declaração Universal dos Direitos Humanos). Há coisas que podiam ser evitados se os países se respeitassem mais uns aos outros. Se houvesse esse respeito o Holocausto não teria existido, não havia a tenção Israel/Palestina, não havia terrorismo... Sim, sei também que muita dessa intolerância não vem de nós, ocidentais, mas se o respeito mutuo existisse... Mas o mundo não é perfeito por isso...

Não pensem que estou "a favor" daquilo que o Irão está a fazer. Apenas acho que devemos respeitar, por muito difícil que seja, a decisão deles! Não podemos estar sempre a meter-nos na "vida dos outros". É a TaL superioridade cultural que nós tanto praticamos...

O respeito é bom. Acho que apesar de tudo é bom tentar compreender.

E vocês o que acham?

Despeço-me com amizade

Até depois.

PS: Para a semana a "Crónica do Desassossego" não vai ser editada. Voltamos a encontrar-nos dia 19 de Setembro. Prometo voltar com mais temas de interesse e com "pano" para o debate. Assim espero...

Até lá.

PS1: Eu sabia que não ia dar em nada...Metem-se os recursos e mais não sei quê... Ver capa DN