Ontem assistimos em todas as televisões, às (ridículas) celebrações dos 100 anos da República portuguesa. Sim, ridículas. Em momentos de “apertar o cinto” gastar dinheiro naquilo é um pouco ridículo. Mas não é isso que me traz aqui.

Agora que a nossa república atingiu os 100 anos de idade e ela não apresenta um estado de saúde que se recomende, aumentam, na internet, as vozes que "chamam pela Monarquia". Dizem que o sistema já se foi, a república não trouxe mais-valias nenhumas, que isto só serve para “tachos” e blá blá blá. Meus amigos, vamos lá ter calma ok? Vamos lá pensar antes de dizer qualquer coisa e não mandar “bitaites”. Disso estamos cheios.

Na verdade, a república só está entre nós desde 1974, desde a Revolução dos Cravos. Porquê? De 1910 a 1926 (o período da 1ª República) o ambiente vivido era de construção de uma nova era e de uma nova fase no cenário político português. As revoluções propostas pelo Governo da 1ª República eram muito fortes e vinham de forma a reestruturar tudo de forma diferente.



Os republicanos sempre acreditaram na força e na importância da instrução. Por isso diziam: - "O Homem vale sobretudo pela educação que possui". Assim, durante a 1ª República, e logo a partir de 1910, os governos republicanos fizeram importantes reformas no ensino. A principal preocupação dos governos republicanos era alfabetizar, isto é, dar instrução primária ao maior número possível de portugueses. Mas, na prática, muitas das medidas tomadas não tiveram o resultado que se esperava, por falta de meios financeiros.



Os governos republicanos também tentaram responder às reivindicações dos trabalhadores. No sentido de diminuir as injustiças sociais e melhorar as condições de trabalho, publicaram algumas leis de protecção do trabalhador. Mas as coisas continuavam difíceis para o lado dos trabalhadores...Enquanto os operários, camponeses e outros trabalhadores continuavam a ter uma vida miserável, nas grandes cidades vivia uma burguesia numerosa e cada vez mais endinheirada.

A 1.a Guerra Mundial (1914-18), na qual Portugal participou, agravou a vida difícil dos trabalhadores portugueses.
No nosso país, como aliás nos outros países da Europa, as consequências da guerra foram desastrosas - desorganização geral, subida de preços, falta de alimentos, greves, desemprego. Apesar de todo o movimento sindical durante a 1ª. República, as desigualdades sociais permaneciam. A coisa não estava a resultar...

E por estas razões, durante a 1ª. República, entre 1910 e 1926, Portugal viveu um período de grande instabilidade governativa.
Tanto o Presidente da República como o Governo, para não serem demitidos, precisavam de ter no Parlamento uma maioria de deputados que os apoiasse. Isso raramente acontecia porque os deputados ao Parlamento estavam frequentemente em desacordo.
Por isso, em 16 anos, Portugal teve 8 Presidentes da República e 45 Governos.
A maioria dos Presidentes não cumpriu os 4 anos de mandato que a Constituição estipulava. E os Governos eram substituídos constantemente, não chegando a ter tempo de concretizar medidas importantes para o desenvolvimento do País. E a que isto nos levou? A uma ditadura militar.



A Revolução de 28 de Maio de 1926, Golpe de 28 de Maio de 1926 ou Movimento do 28 de Maio, também conhecido pelos seu herdeiros do Estado Novo por Revolução Nacional, foi um pronunciamento militar de cariz nacionalista e anti-parlamentar que pôs termo à Primeira República Portuguesa, levando à implantação da auto-denominada , em Estado Novo, regime que se manteve no poder em Portugal até à Revolução dos Cravos de 25 de Abril de 1974. Foi isto uma república? Não. Claro que não.
Em consonância com os tempos que se viviam na Europa, o novo poder assumiu-se como anti-parlamentar, atribuindo as culpas do caos que se instalara no país à política partidária e ao jogo do parlamentarismo. Assim, assume-se como uma ditadura militar, que em pouco tempo se passou, em desafio claro ao parlamentarismo democrático, a auto-denominar a Ditadura Nacional, encarnando um regime militar progressivamente mais autoritário. Numa das suas primeiras medidas, o general Gomes da Costa dissolveu o parlamento, instituição então muito vilipendiada e acusada de ser principal causador da instabilidade política, e suspendeu as liberdades políticas e individuais. No entanto, a nova ditadura era instável porque o movimento militar não tinha projecto político definido e não conseguiu resolver os problemas económicos.
Nada isto tem a ver com uma república!

Por isso só a partir do dia 25 de Abril de 1974 é que começamos a viver, outra vez, a República.
Façamos as contas: de 1910 a 1926 (16 anos) 1ª República; de 1926 a 1974 (48 anos) Ditadura; 1974 até aos nossos dias (36 anos até agora) República outra vez. 48 anos em ditadura e 52 anos em República. Apenas 4 anos de diferença entre um e outro regime...
A República trouxe-nos muitas coisas boas: trouxe-nos a ideia da escolaridade obrigatória, trouxe-nos a estrutura de trabalho tal como a conhecemos hoje, trouxe-nos a liberdade, abriu-nos a porta ao mundo, etc... No estado em que a Monarquia estava naquela altura (totalmente subjugada à Inglaterra por causa da questão do ultimato) a revolução era inevitável!

Então estaríamos melhor se a revolução republicana não tivesse existido? Não sei.
Nesta altura ainda não estamos muito nos jogos de interesses parlamentares e partidários e a olhar pouco para os interesses do povo? Sim, ainda estamos. Mas nós ainda somos um República jovem. São 100 anos falsos. Perdemos muito com a ditadura militar. Perdemos toda a evolução que estava em ebulição na Europa...
Eu quero ser positivo. E não quero entrar em convulsões parvas. Vamos olhar em frente e construir finalmente algo sólido. O passado serve para aprendermos. Não voltaremos a ele...

Força! Coragem! Em frente é o caminho! Ainda temos muito para aprender! Chega de lamurias! É tempo de reagir!





Um abraço,

Guakjas

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PS: Tive o auxilio do livro de História do 6º ano da minha irmã mais nova para escrever este texto. Há certos pormenores que, como é óbvio, não são da minha cabeça: são História!

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Olá João (Guakjas),

Li o seu texto com muito interesse e, como avisou, muitas das passagens são de um livro de História da sua irmã mais nova. Refiro isto porque vejo que gosta de estar informado e de compreender o que se passa e, assim, a minha sugestão, se me permite, é que, sempre que tiver oportunidade, leia algumas obras de Historiadores que já fizeram estudos aprofundados, tanto da Monarquia como da República e, talvez, tenha algumas surpresas interessantes, como, por exemplo, o retrocesso em alguns direitos dos cidadãos que a 1.ª República implementou.

Quanto à situação que estamos a passar agora, com mais ou menos dor e mais ou menos tempo, ela tem que ser bem resolvida, para que tenhamos uma verdadeira democracia, porque ao voltarmos constantemente aos mesmos erros, mostra que pouco aprendemos com eles.

Cumprimentos.

P.S. Desculpe a minha ignorância, mas tenho o endereço do "Blogue do João Bragança", que consta da lista dos que sigo, como sabe, mas não estou familiarizada com este tipo de weblog e não sei como aparecerá na minha lista porque ainda não experimentei. Mas sou curiosa por natureza e vou ver se funciona como qualquer outro.
7 de outubro de 2010 às 00:29  
Blogger Micael Sousa disse:
Em relação ao comentário de Maria Josefa Praias. Sim, a nossa democracia pode parecer definhar mas somente por culpa nossa, por culpa dos cidadãos. Se democracia é o «governo do povo», se o povo se abstém da sua obrigação de participação cívica não há regime que resista. Uma república sem cidadãos (activos na sua cidadania) funciona tanto como uma monarquia sem rei.

Recomendo o livro «História da 1ª República» ,com coordenação de Maria Fernanda Rollo e Fernando Rosas, com participação de outros historiadores. Edição da «Tinta da China».
7 de outubro de 2010 às 10:13  
Blogger Knuckles disse:
Na minha óptica, a república vinca pela grande premissa que efectivamente acarreta: a possibilidade de elegermos o nosso representante, democraticamente.

Sinceramente, e exceptuando essa nuance, não vejo um fosso ideológico tão avassalador entre a monarquia e a república. Pessoalmente até via com bom olhos a implantação de uma Monarquia Constitucional. A maioria dos países europeus (e não só) com elevados índices de desenvolvimento económico e social optam por este sistema, que prima por uma democracia assente em valores e normas modernas, mas deixando os encargos burocráticos do estado ao um simbolo de cunho nacional, o monarca.

Salvo erro já fomos detentores de algo idêntica, no século XIX, com a constituição de 82, com as cortes constitucionais.

Não me alongo mais pois concordo com grande parte do que referes, apenas deixo um pequeno reparo: "Em consonância com os tempos que se viviam na Europa, o novo poder assumiu-se como anti-parlamentar, atribuindo as culpas do caos que se instalara no país à política partidária e ao jogo do parlamentarismo. Assim, assume-se como uma ditadura militar, que em pouco tempo se passou, em desafio claro ao parlamentarismo democrático, a auto-denominar a Ditadura Nacional, encarnando um regime militar progressivamente mais autoritário."

Na verdade, as ditas ditaduras militares (não esquecer que Hitler, Mussolini, Franco e Salazar foram eleitos democraticamente), foram medidas drásticas e insensatas tomadas como resposta a uma crescente onda socialista e comunista subjacente da grande revolução russa e da implantação da URSS, que permitiu a divergência de novas ideologias liberalistas na Europa, o que provocou o caos com graves infundadas, camponeses a tomarem os terrenos por armas, operários e proletariado a tomarem as grandes indústrias urbanas e a destruírem o seu material e afins. Isto levou ao aparecimento de Mussolini e dos seus amigos de camisa negra pelas ruas italianas, que ao espancarem os seus adversários ideológicos, começaram a ganhar um certo respeito e autonomia partidária, pois conseguiam impor a tão desejada ordem. Aliás o poder é-lhes mesmo entregado de bandeja pelo Rei Vítor Emanuel III na famosa "Marcha sobre Roma". O resto é, literalmente, história.

Parabéns pelo belo artigo.
7 de outubro de 2010 às 11:15  
Blogger Che disse:
Dizer que a Grã-Bretanha, a Suécia ou a Bélgica são mais desenvolvidas que nós por serem monarquias, para além de profundamente estúpido, seria o mesmo que dizer que se eu vestir um fato e gravata, sou melhor pessoa, mais educada e culta.
8 de outubro de 2010 às 20:35  
Blogger Che disse:
(continuação)
E efectivamente são. Mas porque têm cidadãos de facto...
8 de outubro de 2010 às 20:36  
Blogger Knuckles disse:
"Dizer que a Grã-Bretanha, a Suécia ou a Bélgica são mais desenvolvidas que nós por serem monarquias, para além de profundamente estúpido, seria o mesmo que dizer que se eu vestir um fato e gravata, sou melhor pessoa, mais educada e culta."

LOL, mais do que a estupidez disso, é o autismo de não se saber distinguir um exemplo de um argumento. E um caso ainda mais gritante de ausência de indícios racionais é contra-argumentar sem, curiosamente, deixar nenhum argumento.

Mas nada temam, cá estarei para responder a estas "situções" ;)
8 de outubro de 2010 às 22:05  
Anonymous Anónimo disse:
Está bem, senhor "quote & reply". Mas mais ridículo do que supostamente confundir um exemplo com um argumento é acusar alguém de ter procurado "contra-argumentar sem utilizar um argumento", quando, afinal, segundo a sua imaculada lógica, não havia nenhum argumento para "contra-argumentar", apenas um exemplo. Continuação de boas verborreias filosóficas.
9 de outubro de 2010 às 22:18